Quando ainda na faculdade estudei esta técnica sob os cuidados de um professor, que havia residido no Japão durante 8 ou 9 anos.
Tal como o desenho, também o material é parco mas essencial: pincéis, tinta da China e papel, de arroz, geralmente; uma mesa baixa ou o próprio chão servem de apoio. Os registos mais simples, por onde começa em regra toda a aprendizagem, são os bambus. O pincel é colocado entre os dedos na posição vertical e humedecido em água, após o que se mergulha na tinta o suficiente para que apenas a ponta fique tingida. Depois, o gesto do braço fará o resto, mantendo sempre a vertical. Tudo está contido no delicado equilíbrio entre a energia e o controlo de cada pincelada, mais do que na pressão do pincel e na opacidade da tinta.
É necessário muito treino, grande destreza e concentração para se tornar um artista de sumi-e, capacidade reservada somente a alguns. O desenho/escrita é criado com base numa compreensão profunda do tema representado e num sentir intenso. Praticamente tudo se pode representar, desde animais a figuras humanas, embora os temas tradicionais se quedem pelo reino vegetal: crisântemos, íris, orquídeas, cerejeiras sakura, videiras, pinheiros surgem de modo recorrente.
Não é só o modo como se representa o tema que importa; se assim fosse os desenhos poderiam tornar-se monótonos e repetitivos, uma vez que seguem algumas regras rígidas. Mas não há dois iguais. A composição é muito importante e obedece, também ela, a certas regras canónicas. É na composição que se revela a alma do artista, elegância e harmonia suprema que culmina com a aposição do carimbo com o seu nome.
A palavra sumiê significa “pintura a tinta” em português, e consiste numa técnica de pintura em preto-e-branco originada em mosteiros budistas da China durante a dinastia Sung (960-1274). Levada pelos monges zen ao Japão a partir do século XIV, o sumiê tinha essencialmente temáticas religiosas que representavam elementos budistas, como o círculo, que indica o vazio interior, ou da natureza, como as rochas e a água.
Para o artista, o mais importante é retratar a essência do elemento a ser pintado, e não a mera reprodução de sua aparência exterior. Adotando esses princípios, o sumiê exerce uma dicotomia interessante. Preto-e-branco, concreto e abstrato, água e terra, controle e espontaneidade são manifestações presentes nessa arte, que, a partir do século XV, passou a retratar também pássaros, flores e paisagens. Alguns dos artistas mais importantes do sumiê são datados desse período, destacando-se Sesshu, o primeiro a criar uma linguagem peculiarmente japonesa para o estilo.
Fonte: Revista Made in Japan
Jake Rodrigues
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